Cada personagem sente sede e fome, assim como os personagens que eles acabam por interpretar no final do curta, mas de forma diferente. Pensando nisso, comecei a desenhar um esboço de como seria a fotografia desse curta.
Lembro que a primeira vez que li alguma coisa sobre direção de fotografia, logo me deparei com uma definição que me deixou um tanto desconfiado: “O diretor de fotografia pinta um quadro que não é seu”. Nesse caso o quadro era do meu irmão mais velho, o que era bem pior.
O primeiro layout sobre o posicionamento das luzes que mostrei para o dono do quadro a crítica veio a tona. “Eles estão ensaiando. Será uma luz de ensaio”. Na minha cabeça, o curta já era a peça do começo ao fim. A peça inicia no ensaio. Sempre pensei assim mas, enfim, o quadro ainda era dele. Enfim comecei a esboçar os primeiras cores desse quadro que não era meu, mas que fui incumbido de pintar percebendo como seria difícil pintá-lo como o Fábio gostaria que fosse.
Comecei pela escolha das tintas, que foi feita junto com o Tirotti. Quando dei a minha primeira pincelada em um tom de luz amarelo, quase que dourado, no rosto de Clarice, percebi que a proposta estava dando certo. Quando suavizei o tom no rosto do Borges com uma cor quase que lilás, subvertendo a minha vontade inicial de querer o azul, percebi que estava no caminho. Quando deixei a luz natural invadir o galpão, espalhando pelo quadro do Fábio um balde de tinta forte e branca, notei que o resultado havia dado resultado.
A preocupação em pintar de luz os espaços escondidos nas sombras dos olhos dos atores e ressaltar a tinta preta da sombra da árvore seca eram as minhas principais preocupações. Deixar a imagem mais limpa possível. Já que seria a primeira vez na minha brevíssima e provinciana carreira de diretor de fotografia que pude desfrutar da diversidade de cores disponíveis num set de gravação.
Agora o trabalho é de finalização, ajuste e suavização daquelas cores que ainda não se adaptaram ao quadro do Fábio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário